Walter Benjamin é frequentemente comparado a uma “caixa-preta” do século 20, um enigma a ser decifrado em um momento trágico de derrotas para formas dialógicas e solidárias da experiência. Esta metáfora dupla sugere tanto a necessidade de desvendar os enigmas e fantasmagorias que ele representa quanto de preservar suas memórias e sentidos em meio a uma temporalidade tumultuada.
À medida que nos aproximamos do 80º aniversário de sua morte em 2020, é notável que no Brasil, nas últimas décadas, houve poucos seminários e congressos dedicados a este filósofo tão influente em diversas áreas acadêmicas, desde História até Artes, Filosofia, Arquitetura, Literatura e Sociologia. Apesar dos esforços de grupos de pesquisa e da reedição de suas obras, parece haver desafios persistentes em fazer com que Benjamin, o colecionador de estilhaços da dialética, se conecte mais intimamente com a vida fora dos círculos acadêmicos.
O Brasil, apesar de sua riqueza intelectual e cultural, muitas vezes sucumbe a um barbarismo bovarista edulcorado, incapaz de lidar com questões urgentes como a violência contra jovens negros, o abuso de mulheres, a destruição de ecossistemas e a corrupção política. Num momento em que se torna cada vez mais crucial confrontar esses desafios, a obra de Benjamin pode oferecer insights valiosos sobre resistência, crítica social e possíveis caminhos para uma transformação mais profunda e significativa.